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Horas antes do tão esperado confronto entre Santa Cruz e Sport pelo Campeonato Pernambucano de 2025, o Recife se transformou em um campo de guerra. Vídeos e imagens estarrecedoras circulam nas redes sociais, expondo cenas de violência protagonizadas por facções criminosas disfarçadas de torcidas organizadas. Relacionam-se mortes confirmadas, depredações de património público e privado e um estado de ameaça que se espalha pela cidade, especialmente nos arredores do Arruda, o Estádio José do Rêgo Maciel. A paixão pelo futebol, que deveria se unir, mais uma vez é sequestrada pela barbárie.

 

A situação exige medidas imediatas e energéticas. A paralisação da comercialização de ingressos, o reforço urgente do contingente policial e a adoção de um estado de alerta são passos imprescindíveis para evitar que o espetáculo esportivo se transforme em mais uma tragédia anunciada. Não podemos aceitar mais soluções tardias ou paliativas. É hora de agir com firmeza e caráter pedagógico, para que a violência não seja normalizada como parte do futebol brasileiro.

 

O cenário pernambucano é apenas um reflexo do que ocorre em todo o país. A cada semana, novas manchetes escancaram a recorrência da violência entre torcedores organizados. Esses grupos, que deveriam ser representantes da festa nas arquibancadas, envolveram facções criminosas que ameaçaram vidas sob o manto da paixão clubística. A missão estatal e a conivência velada de alguns clubes alimentam esse ciclo vicioso. Até quando permitiremos que as ruas e os estádios sejam palcos de terror?

 

O exemplo inglês no combate aos hooligans nos anos 1980 é uma referência clara do que precisa ser feito. Após tragédias como a de Heysel, medidas rigorosas foram rompidas: banimento dos torcedores violentos, modernização dos estádios e responsabilização direta dos clubes. O resultado foi a transformação do futebol inglês em um ambiente seguro e familiar. No Brasil, iniciativas como a Lei Geral do Esporte (14.597/2023), que responsabiliza clubes civis e torcedores organizados por atos violentos, são um avanço. Mas sua aplicação ainda é tímida diante da gravidade da situação.

 

Em Pernambuco, ações como a regulamentação de torcidas organizadas nos estádios e a criação de delegações especializadas são importantes, mas insuficientes, sem uma mudança cultural mais profunda. Os clubes precisam romper qualquer vínculo com esses grupos criminosos e investir em projetos educacionais que resgatam o verdadeiro espírito do futebol: celebração e união. Além disso, os cânticos que incitam a violência devem ser tratados como comportamentos sensíveis passíveis de violência na justiça esportiva.

 

A resposta à crise atual deve ir além da repressão imediata. É preciso banir as infrações identificadas das praças esportivas, aplicar medidas cautelares restritivas e exigir respostas firmes dos clubes para sepultar qualquer resquício de conivência com essas falsas torcidas. O Estado tem o dever de agir com urgência para garantir a segurança à população e devolver ao futebol sua essência.

 

Que este “Clássico dos Clássicos” não seja lembrado pelas manchetes sangrentas fora das quatro linhas, mas sim pelo espetáculo dentro delas. O futebol brasileiro precisa renascer como palco da paixão saudável – não como cenário de tragédias evitáveis.

 

Delmiro Campos, Auditor do STJD de Futebol, Voleibol e Procurador-Geral do STJD do Surfe.

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