João Campos transforma a Prefeitura em trampolim eleitoral com cargos de olho em 2026
A engrenagem política do prefeito do Recife, João Campos (PSB), está a todo vapor – mas não a serviço do recifense. Desde janeiro, quando a Câmara aprovou a polêmica reforma administrativa que criou 932 novos cargos comissionados e aumentou o número de secretarias de 19 para 24, o que se viu foi uma verdadeira operação de bastidores: transformar a máquina pública municipal numa central de acordos políticos visando 2026.
A criação da nova estrutura, à época justificada como necessária para “modernizar a gestão”, já se revelou, na prática, uma ferramenta para acomodar aliados e construir apoios eleitorais no interior e na Região Metropolitana. Ex-vereadores, suplentes, derrotados nas urnas, ex-prefeitos e militantes partidários foram agraciados com cargos, alguns com salários de até R$ 24 mil. A gestão virou vitrine para negociações.
O movimento, articulado com frieza e método, sinaliza que João Campos não quer esperar o calendário eleitoral. Com a popularidade em queda nas periferias e a oposição interna no PSB crescendo, o prefeito partiu para montar sua tropa de choque antes que os adversários se mexam. E para isso, a máquina municipal foi aparelhada sem pudor.
A pergunta que não quer calar é: quem está cuidando de fato do Recife enquanto João faz campanha antecipada pelo estado? A cidade segue atolada em problemas antigos – buracos, filas nos postos, escolas deterioradas, habitação precária. Nenhuma das grandes promessas da campanha de 2024 foi verdadeiramente cumprida. Mas isso não parece incomodar o prefeito, que já se apresenta como “gestor de referência” nos eventos do interior.
A aprovação do pacote de cargos em janeiro foi só o começo. De lá para cá, João passou a usar essa estrutura inchada como moeda para atrair prefeitos, lideranças e vereadores, oferecendo “consultoria técnica” que, na prática, significa nomeações e convênios em troca de apoio político. É o velho jeitinho travestido de gestão moderna.
Com um rombo de quase R$ 476 milhões nas contas públicas em 2024, a Prefeitura agora carrega uma folha de pagamento ainda mais pesada. E a população se pergunta: como um gestor que não conseguiu equilibrar as contas do Recife pode prometer resolver os problemas de todo um estado?
João Campos pode até ter pressa, mas ao usar a cidade como trampolim, ele corre o risco de tropeçar. Pernambuco já viu esse filme antes – e nem sempre teve final feliz.
CARGOS – Os 3.555 cargos comissionados da Prefeitura do Recife formam hoje um verdadeiro exército político. Boa parte das nomeações não tem qualquer perfil técnico, mas atende a indicações políticas. E o contribuinte é quem paga essa conta.
PRECOCE – Mesmo sem declarar oficialmente, João Campos já se movimenta como pré-candidato ao Governo de Pernambuco. Nos bastidores, a ordem é clara: fechar apoios regionais até o fim de 2025. A campanha já começou – só esqueceram de avisar ao TSE.
SAÚDE – Enquanto o prefeito prioriza articulações, a rede de saúde municipal vive uma crise silenciosa: falta de médicos, insumos e superlotação em policlínicas. A Secretaria de Saúde virou moeda de troca política – e o povo que espere.
SUBMISSA – A base governista na Câmara do Recife não esboça resistência. Desde janeiro, vota com João Campos sem pestanejar. O pacote de cargos foi aprovado com 29 votos favoráveis e apenas 8 contrários. Fiscalização? Só no discurso.
FOTO: Rodolfo Loepert/Divulgação