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Foto: Edson Holanda/PCR

 

João quer vender o Recife

 

O Recife está à venda. E o corretor da vez, com a chave da cidade em mãos, atende pelo nome de João Campos, o jovem prefeito e presidente nacional do PSB que parece ter um apetite insaciável por transformar patrimônio público em negócio privado. A mais recente joia da coroa a ser leiloada é o coração da capital pernambucana, a Avenida Guararapes e seu entorno, embalada para presente sob o nome pomposo de “Distrito Guararapes”. Um projeto que, a pretexto de “revitalizar”, entrega o centro histórico de bandeja para a iniciativa privada por 30 longos anos.

 

Os números da operação, que deveriam estar em outdoors pela cidade, são reveladores. Falam em investimentos de R$ 25 milhões, como também injetará R$ 234 milhões em “contraprestação” ao longo do contrato. Traduzindo do economês para o bom português: o cidadão recifense vai pagar para um empresário lucrar com um pedaço da história da sua cidade. É um negócio da China, mas para o parceiro privado.

 

A proposta para o centro do Recife não é um fato isolado, mas o capítulo mais ousado de uma saga de privatizações que varre a cidade. A gestão de João Campos opera com a lógica de um feirão, onde tudo o que é público está na prateleira. O Parque da Jaqueira, pulmão verde da Zona Norte e refúgio de milhares de famílias, foi entregue junto com os parques de Santana, Apipucos e Dona Lindu para a empresa Viva Parques. O valor da outorga? Irrisórios R$ 413 milhões.

 

E o lucro virá, não há dúvidas. Virá da cobrança de estacionamento, da instalação de lojas, da realização de eventos pagos. Virá da transformação do lazer em consumo. A conta já chegou para quem usa o estacionamento da Jaqueira e para os atletas do bicicross, que viram sua pista, um espaço de esporte e inclusão, ser ameaçada de demolição para dar lugar a um restaurante. A coisa chegou a tal ponto que os parques amanheceram pintados com publicidade de casas de apostas, as famigeradas “bets”, numa afronta que precisou de uma grita geral para ser (mal) desfeita. O recado, porém, ficou claro: nos novos parques do Recife, o cidadão não é mais usuário, é cliente.

 

A sanha privatista não para por aí. O Geraldão, nosso maior ginásio, foi concedido por 35 anos. A saúde básica, com a gestão de Unidades de Saúde da Família (USFs) entregue a grupos privados por 20 anos, troca o cuidado pela frieza das metas. Até as creches, futuro da cidade, entraram no negócio, com 39% da rede nas mãos de organizações que, em muitos casos, sequer possuíam alvará de funcionamento. A educação e a saúde, pilares de qualquer sociedade, viram mercadoria.

 

E quando se pensa que não há mais o que vender, a prefeitura anuncia a intenção de conceder a gestão da orla de Boa Viagem por 25 anos. Sim, o cartão-postal do Recife, a praia que é a alma da cidade, com trechos da faixa de areia incluídos no pacote. A prefeitura investe mais de R$ 150 milhões na revitalização e, em seguida, entrega o filé mignon prontinho para a exploração privada.

 

Enquanto a cidade é fatiada e vendida, os problemas reais do recifense se acumulam. A mobilidade urbana é um caos, a desigualdade social explode nas periferias, os morros deslizam a cada chuva e o déficit habitacional é ignorado. A “revitalização” do centro, na prática, promove o aburguesamento, expulsando o comércio popular e os moradores de baixa renda para dar lugar a apartamentos de luxo e negócios para turistas.

 

João Campos vende um Recife moderno, “instagramável”, mas o que entrega é uma cidade-empresa, um shopping a céu aberto onde o acesso é restrito e o lucro é o único objetivo. A pergunta que fica, enquanto o martelo é batido em mais um leilão, é: o que sobrará do Recife para os recifenses?

 

REAÇÃO I –  A prefeita de Cedro, Riva Bezerra (PSD), reagiu com veemência à denúncia de cassação apresentada pelo vice-prefeito Antonio Leite (Republicanos) na Câmara. A gestora classificou a iniciativa como “descabida, fajuta e de má-fé”, acusando Leite de tentar um “golpe” contra a democracia. Bezerra disparou que o vice atua como um “conspirador golpista” que tenta “tomar o poder no tapetão”, pois seria incapaz de vencer nas urnas. Ela confia que o povo e a Justiça não permitirão a consumação do ato.

 

REAÇÃO II –   O vice-prefeito de Cedro, Antonio Leite (Republicanos), articula na Câmara a cassação do mandato da prefeita Riva Bezerra (PSD), necessitando de seis dos nove votos (2/3). A iniciativa, contudo, enfrenta resistência até mesmo dentro de sua família. O vereador Miguel Leite (Republicanos), irmão do vice, manifestou-se contrário à cassação. A votação expõe a divisão, com a incógnita sobre o voto de Nego do Barro Branco (PSD), que pode sofrer por infidelidade partidária caso vote contra a prefeita.

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