Viagem sem volta: A farra bilionária do governo
A fila de pedidos de convocação de ministros do governo Lula na Câmara dos Deputados parece mais longa que fila de SUS em dia de greve. Suspeitas de corrupção, farra com cachês, fraude até em marmita, mensagens mantidas sob sigilo, rombos em estatais e gastos fora de controle compõem o cenário. A gestão vai acumulando escândalos enquanto o país gira na base do improviso.
Quem se destaca no palco da desconfiança é a ministra da Cultura, Margareth Menezes. Já são 16 pedidos para que ela se explique sobre cachês polpudos, comitês de cultura com pinta de apadrinhamento e potenciais conflitos de interesse. A cultura virou palco para a farra — e quem paga a luz e o som é o contribuinte.
Outro personagem frequente nos bastidores do Congresso é Marcos Pollon (PL-MS), um dos deputados mais ativos na caça às explicações. Já são 26 pedidos de convocação protocolados, mirando diferentes ministros e cargos estratégicos.
Até Rui Costa, chefe da Casa Civil, virou alvo de oito pedidos. Curiosamente, dois deles nem têm relação direta com ele, mas com lambanças ligadas à primeira-dama Janja. No governo Lula, até o entorno íntimo entra na roda viva das crises.
A coisa é tão fora da curva que nem os ministros concentram todas as atenções. Também foram acionados João Luiz Fukunaga, presidente da Previ, e Gabriel Galípolo, do Banco Central, ampliando o raio-x de um governo que parece ter dificuldade em colocar ordem nem mesmo dentro de casa.
E enquanto o caos institucional se acumula, os cofres públicos continuam abertos como nunca. Já se passaram 43 dias desde a última atualização dos gastos com viagens no Portal da Transparência. Até o final de fevereiro, já tinham sido gastos cerca de R$80 milhões com deslocamentos do alto escalão. A Controladoria-Geral da União jura que está dentro do prazo legal — mas transparência que chega depois da pressão já perdeu a validade moral.
Nos dois primeiros meses de 2024, foram R$41,4 milhões apenas com diárias. Mais R$37,8 milhões em viagens de avião. A temporada de turismo oficial segue firme: em 2023, o governo torrou R$2,3 bilhões. Em 2024, já caminha para repetir a dose. São R$5 bilhões em dois anos, com pouco ou nenhum retorno visível à população.
O governo Lula virou um grande tour nacional e internacional. O problema é que, enquanto os ministros viajam, quem continua na estação esperando por saúde, segurança e educação é o povo. E ainda tem que bancar a passagem de ida e volta.
Foto: VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL