Deputados do PT, PCdoB, PSB, PDT e PSOL protestaram em plenário contra prisão do petista por corrupção. Bancada da esquerda interrompeu sessão e obstruiu votações da Câmara dos Deputados pedindo libertação de Lula, em 2018. Foto: Arquivo/Luis Macedo/Agência Câmara
A obstrução das votações na Congresso Nacional, anunciada por parlamentares de direita nesta terça-feira (5) para protestar por anistia e contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi tratada pela esquerda como “ato autoritário, antidemocrático e de golpe”. Mas partidos da base do governo petista adotaram o mesmo recurso político contra a prisão do hoje presidente Lula (PT), quando este foi preso condenado por corrupção, em abril de 2018.
A ocupação das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, ontem (5), foi tratada pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP), como uma atitude “arbitrária” que “fere os princípios democráticos”. Mas deputados do PT de Lula, do PCdoB, PSB, PDT e do PSOL protestaram em plenário contra prisão do petista, há sete anos. E justificaram o ato de obstrução com um argumento similar ao que é usado pelos defensores da liberdade de Bolsonaro: “restaurar a situação de normalidade democrática no país”.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) considerou a obstrução dos bolsonaristas como um “tapa na cara da democracia” e desrespeito ao Estado Democrático de Direito. Mas defendeu a mesma postura, em 2018, quando liderava o PT e a obstrução das votações na Câmara dos Deputados: “Enquanto bancada, aqui na Câmara, não vamos permitir que essa situação seja naturalizada, que o Parlamento funcione normalmente, como se nada estivesse acontecendo. A bancada do PT está em obstrução em todos os temas”, dizia o ex-ministro do atual mandato de Lula.
Plenário da Câmara foi surpreendido por ato de defesa de Lula que iniciou obstrução de votações, em 2018 (Foto: Arquivo/Reprodução/Fotos Públicas)
Pressão contra Justiça
A pressão contra decisões judiciais também estava na pauta da esquerda, em 2018. Inclusive com acampamento diante da sede da Justiça Federal em Curitiba, onde Lula foi julgado e condenado por crimes resultantes da investigação da Operação Lava Jato sobre o esquema do “petrolão”, que sangrou bilhões com corrupção confessada por empreiteiros e corruptores, na Petrobras.
Até os discursos de que o cerco judicial teria motivação eleitoral são comuns aos proferidos ontem, defendendo Bolsonaro, e há sete anos, em defesa de Lula. “Temos certeza que foi uma ação planejada para tirar Lula da disputa presidencial deste ano”, reclamava o então deputado José Geraldo (PT-PA), em 2018.
Alvo atual da pressão política dos defensores de Bolsonaro, o STF foi responsável por decisões que libertaram Lula, em 2019 (após 580 dias preso na sede da Polícia Federal em Curitiba), e anularam suas condenações por corrupção e lavagem de dinheiro, em 2021. Segundo o Supremo, Lula foi vítima de um conluio entre o Ministério Público Federal (MPF) e o então juiz da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, hoje senador Sergio Moro (União-PR).