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Fundaj realiza exposição fotográfica “A Cultura Marítima Pesqueira em Pernambuco”

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Mostra, realizada na sala Waldemar Valente, no Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte, integra a programação do “VI Seminário Pesca Artesanal e Sustentabilidade Socioambiental: dialogando com a agroecologia”. Foto: Divulgação

 

A pesca artesanal constitui fator estruturante na formação das comunidades marítimas, cujo modo de vida e cultura se expandem para além das atividades que ocorrem no âmbito estrito do trabalho no mar. A prática se desenvolve por meio de uma gama de relações sociais e de conhecimentos construídos, acumulados e transmitidos ao longo de gerações. Pensando nisso, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) recebe, na sala Waldemar Valente, no Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte, a exposição fotográfica “A cultura marítima pesqueira em Pernambuco”, que traz imagens de comunidades pesqueiras registradas por fotógrafos profissionais e amadores do estado durante todo o século XX.

 

A mostra é uma articulação do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), e do Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) da Coordenação do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra) e do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), equipamentos da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca).

 

Aberta às 19h, a mostra faz parte da programação do “VI Seminário Pesca Artesanal e Sustentabilidade Socioambiental: dialogando com a agroecologia”, evento promovido pela Fundaj, por meio do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), que acontece de 8 a 10 de novembro, na Sala Aloísio Magalhães, campus Ulysses Pernambucano, no Derby.

 

A coordenadora do Cedist, Edneida Cavalcanti, enfatiza que as imagens possuem uma importância como registro e também como método e estratégia de pesquisa. Segundo ela, é um rico material de trabalho na temática socioambiental. “Isso tanto como reflexão, a partir de uma imagem existente, como caminho metodológico e educativo, inclusive com produção a partir de grupos dos quais a gente trabalha, como educadores e comunidades. Além disso, a gente tem um potencial incrível de pesquisa no rico acervo que a Fundaj possui. A partir desse acervo é que a gente construiu a proposta desta exposição que compõe a programação do VI Seminário Pesca Artesanal e Sustentabilidade Socioambiental. Essa exposição é resultado também de um novo contexto institucional e é fruto de iniciativas para aproximar mais as diretorias da Fundaj, demonstrando o potencial que temos em quanto instituição para articular pesquisa, educação, formação e cultura”, justifica.

 

A exposição conta com curadoria da bolsista Luiza Araújo, que realizou a pesquisa de acervo, e a historiadora e pesquisadora da Fundaj, Rita de Cássia Araújo. De acordo com a pesquisadora, a mostra resulta da confluência de interesses científicos e culturais de três instituições públicas federais: a Fundação Joaquim Nabuco, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Ministério da Pesca, por meio da Secretaria da Pesca Artesanal. Internamente, é uma das atividades que marca o almejado reencontro entre diferentes setores da Fundaj, aliando ações de pesquisa social, de memória e cultura, notadamente, neste dois últimos casos, ações de preservação e difusão de acervo histórico.

 

“Essa mostra fotográfica sobre pesca artesanal em Pernambuco, no transcurso do século XX, extraída de importantes coleções do acervo do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira, da Joaquim Nabuco, insere-se na linha de pesquisa sobre acervos visuais desenvolvida neste setor, prioritariamente as que utilizam as fotografias como fonte de pesquisa histórica, que se propõe a desenvolver análises críticas e novas interpretações sobre imagens visuais contextualmente situadas”, observa a pesquisadora.

 

De acordo com Rita de Cássia Araújo, ao investigar as fotografias sobre a pesca marítima, foi percebido uma certa ambiguidade no olhar dos fotógrafos, para os quais a pesca marítima artesanal gerava sentimentos de fascínio e estranhamento, notadamente nas ocasiões em que os pescadores aventuravam-se no mar bravio embarcados nas seculares e aparentemente frágeis jangada à vela. “A pesca marítima foi uma das primeiras atividades econômicas a se constituir na antiga colônia que veio a ser o Brasil, para cuja formação concorreu a mão de obra de indígenas e africanos escravizados, bem como de trabalhadores livres, europeus, brancos e pobres no geral, resultando na construção de uma cultura marítima com seus modos de morar, rituais, celebrações, crenças, expressões culturais, saberes e fazeres específicos”, destaca.

 

No entanto, ressalta a pesquisadora, essa cultura secular e tradicional dos trabalhadores e trabalhadoras da pesca artesanal passou despercebida ou foi propositalmente ignorada pelos fotógrafos. Sendo vista e representada em fragmentos, em que apenas alguns aspectos e significados, os que interessavam à sociedade envolvente, mereceram registros visuais a serem difundidos no presente histórico de então e legados ao futuro. “No geral, os trabalhadores e as trabalhadoras da pesca, quando retratados, eram representados como o Outro exótico, alheio e distante de si; mais tarde, como tipos populares ou regionais, elementos formadores de uma identidade nacional e regional baseada no binómio nacional-popular”, aponta. Além disso, complementa, foi visto que a jangada à vela, a destreza e a força física masculinas dos pescadores foram elegidos como elementos centrais de uma estética construída no campo da fotografia referente à pesca marítima e estuarina e à lida com o mar.

 

A mostra “A cultura marítima pesqueira em Pernambuco” é um convite ao público para que venha a conhecer sobre a produção fotográfica referente à pesca artesanal em Pernambuco, no decorrer do século passado, como também constitui um chamamento para que se reflita sobre o modo com que grupos e comunidades portadores de culturas específicas têm sido historicamente representados pelos segmentos sociais dominantes. “O desafio que se nos apresenta hoje é o de como superar formas de representação de comunidades específicas que ignoram sua autodeterminação e as subalternizam, colocando-as no lugar do Outro estranho e submisso”, afirma a pesquisadora.

 

Jangada

A exposição contará com uma jangada composta de uma coleção de itens que fazem parte da conjuntura da peça. Em bom estado de conservação, a jangada foi adquirida pela Fundaj em 1979 e integra o acervo do Museu do Homem do Nordeste. A peça fez parte da exposição de longa duração do Muhne até 2002, quando o museu foi fechado para reforma. Desde então, passou por restauração no Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte Antônio Montenegro (Laborarte) e estava sob a guarda da reserva técnica do museu.

 

Serviço:

Exposição “A cultura marítima pesqueira em Pernambuco”
Sala Waldemar Valente
Campus Gilberto Freyre
Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte

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